Autor: Pr. Ivo Lídio Köhn
A chegada do (a) irmão (ã) numa família, dá início à formação de vínculos fraternos. A chegada do irmão é a chegada do “estrangeiro”, daquele que com sua presença perturba o equilíbrio constituído. Com ele é introduzida a noção de mudança, a de paridade. A partir do nascimento do segundo filho terão início partilhas, negociações, julgamentos. O filho mais velho necessitará reorganizar seu espaço e sua maneira de pensar, levando em conta a existência do mais novo. A fraternidade desloca o primogênito do lugar único e privilegiado que este, até então, ocupava na relação com seus pais. Ao colocar o filho mais velho na situação de “apenas mais um, um entre outros”, a fraternidade possibilita sua introdução na rede de relações sociais.
“Cada um de nós nutre a fantasia de ser alguém único, de ser o único a contar para os outros e no mundo.” Abandonar essa idéia é difícil, mas necessário para viver entre os outros, com toda a sua complexidade. Os irmãos vão formar um subgrupo dentro da família, também chamado de subsistema fraterno, transformando-o em complexo familiar. O relacionamento fraterno vai contribuir significativamente tanto para a harmonia quanto para a desarmonia familiar, e esse conjunto de vivências funcionará como um laboratório para as relações sociais experimentadas fora da família. Essa relação é formada e fortalecida durante a infância, apresenta o auge dos conflitos e das transformações na adolescência e geralmente se reequilibra na idade adulta e na velhice, apresentando uma nova forma de manutenção da relação. Vários fatores, tais como gênero, diferença de idade, intervenções parentais e temperamento infantil, intervêm na relação para facilitá-la ou dificultá-la.
Os filhos reavivam as boas e as más lembranças dos pais. Cada um dos pais tem as suas lembranças, de conteúdos diversos e que são ignoradas, ou não, pelo cônjuge. O casal tem as suas próprias vivências enquanto membros de uma fraternidade, e assim, cria expectativas, não só em relação ao novo filho, mas também, ao modo como a relação entre ele e o mais velho vai se desenvolver. Os pais projetam, então, nos filhos os fantasmas da sua relação com seus próprios irmãos na infância, ou as fantasias que faziam a respeito de um irmão imaginário, caso tenham sido filhos únicos. A relação entre os irmãos na primeira infância vai ser marcada pela disputa do amor e da atenção dos pais, além de pelo desenvolvimento da própria personalidade, através da diferenciação com os irmãos.
A entrada na adolescência é por si só uma fase complexa e “tormentosa”. O adolescente perde a sua identidade infantil com suas vantagens, sem ter ainda conseguido o poder que o estado de adulto confere. A presença de irmãos mais novos, ainda crianças, pode intensificar seus tormentos. O adolescente, ao mesmo tempo em que luta para deixar de ser criança, ainda anseia pelos carinhos, proteção e vantagens dessa situação. Quando a fraternidade é composta por irmãos adolescentes, o motivo principal da discórdia é a demarcação de seu território (quarto inviolável) e o uso de objetos pessoais, sem autorização, danificados, ou não restituídos. Ocorrem, entretanto, instantes privilegiados em que reinam relações cúmplices e calorosas. Os irmãos compartilham interesses e ambições, podendo ser companheiros e ter um bom entendimento. A solidariedade entre os irmãos pode ser de tal ordem que os pais se sintam diante de um “sindicato dos filhos”, pois estes se protegem uns aos outros, defendendo a causa do irmão, numa atitude corporativa. A relação entre irmão e irmã pode ser ainda de maior cumplicidade e proximidade do que a que se dá entre adolescentes do mesmo sexo. A adolescência pode ser considerada uma “segunda chance” de nos tornarmos “ irmão do irmão”.
Não consigo visualizar um lar harmonioso e feliz, uma família bem estruturada sem que os vínculos fraternos entre os componentes da mesma sejam estabelecidos e respeitados. Jesus teve irmãos e irmãs segundo a carne, e estabeleceu com eles um vínculo fraterno que lhe possibilitou uma convivência harmoniosa em Nazaré. Se não houver amor fraterno e respeito mútuo na família, que dirá na sociedade ou na Igreja!
Pastor Ivo Lídio Köhn