O que deu vida ao ser humano foi o espírito de vida soprado por Deus nas narinas de Adão. Se essa vida espiritual não for cuidada, nutrida e alimentada o corpo adoece e apenas vegeta. O mesmo também é verdade e realidade na vida matrimonial e familiar. Sem os cuidados com a espiritualidade, com os princípios espirituais, sem seguir a risca a receita de Deus para uma família harmoniosa e feliz, jamais teremos famílias e lares com sucesso. Antes de governar na igreja, ou querer liderar qualquer grupo o homem tem que governar em sua própria casa: “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher… e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como governará a Igreja de Deus?)” (1 Timóteo 3.2a,4-5) Não é porque vai governar a igreja que o bispo tem que ter um bom lar, mas justamente o contrário. O homem tem que ser o pastor do seu próprio lar; isto é requisito não só para quem ingressa no ministério de tempo integral, mas é um exemplo de vida cristã. E se a pessoa não cumpre um requisito básico da vida cristã, então não tem autoridade para ser um ministro à frente da Igreja. Portanto, o mandamento de governar bem o lar – incluindo a vida espiritual – é para todo cristão. E isto envolve uma excelente conduta familiar, que depois será cobrada do líder como exemplo para o restante do rebanho (Tito 1.5,6)
O homem, além de ser fiel à sua esposa, deve conduzir seus filhos no caminho do Senhor e numa vida de santidade, o que exigirá dele não só conselhos casuais, mas todo um acompanhamento, investimento e ministração na vida espiritual de seus familiares. O posicionamento de um homem de Deus sempre deve envolver sua casa. Este foi o exemplo dado por Josué: “Mas se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais… Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24.15) O texto acima reflete a responsabilidade de Josué de não apenas buscar ao Senhor, mas servi-lo com toda a sua família. Quando se trata de família, não existe a história de “cada um por si”. Embora a responsabilidade de cada um diante de Deus seja individual, precisamos aprender a lutar por nossos familiares, especialmente aqueles que possuem a incumbência de governar o lar. O plano de Deus não é apenas para o homem sozinho, mas para toda a sua família. Quando o Senhor decidiu julgar e destruir a humanidade nos dias de Noé, não proveu salvação para ele sozinho, mas para toda a sua família (Gn 6.18). Vemos também que Deus prometeu a Abraão que nele seriam abençoadas todas as famílias da terra (Gn 12.3). Ao tirar Ló de Sodoma, o anjo do Senhor fez com que ele saísse com toda a família (Gn 19.12). No Novo Testamento encontramos um anjo visitando Cornélio e dizendo que deveria chamar a Pedro, “o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa”. (At 11.14). E além de todas estas porções bíblicas, encontramos a clássica declaração do apóstolo Paulo ao carcereiro de Filipos: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e toda a tua casa.” (Atos 16.31)
Deus tem um plano para toda a família. Não quer dizer que porque um se converteu, todos irão automaticamente converter-se por causa deste texto. Não creio que ele seja uma promessa a todo crente, e sim que revele uma intenção de Deus quanto às famílias de uma forma geral. Vale lembrar que Paulo declarou isto ao carcereiro num momento em que este homem ia se matar. Paulo não podia vê-lo, pois além de estar dentro de sua cela, a Bíblia diz que eles estavam no escuro. O apóstolo Paulo teve uma revelação do Espírito Santo para uma pessoa específica, num momento específico. Não podemos dizer: “Ei, Deus! Você prometeu que se eu cresse iria salvar todo mundo lá em casa!”. Mas podemos muito bem orar pelos nossos familiares crendo que há um plano divino para toda a família. Porém, ainda assim, cada familiar nosso tem o direito de escolha; e se dirão sim ou não a Jesus Cristo, é uma responsabilidade pessoal de cada um deles. Mas devemos fazer de tudo para convencê-los, ensiná-los, cobri-los de oração intercessora e tudo o mais que for possível.
Quais as consequências de se negligenciar o governo espiritual em casa? Juízo divino para o cabeça, além da evidente rebeldia e frieza espiritual que se manifestará na vida dos filhos. A primeira palavra profética que Samuel proferiu foi contra alguém que ele certamente amava: o sacerdote Eli, que o criara no templo. E o que Deus disse envolvia a casa dele e sua negligência no sacerdócio familiar: “Naquele dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado com respeito à sua casa; começarei e o cumprirei. Porque já lhe disse que julgarei sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele não os repreendeu.” (1 Samuel 3.13) O Senhor trouxe advertências anteriores, mas Eli não deu ouvidos. Deus está falando de negligência, aqui. Diz que embora conhecesse bem o pecado dos filhos, Eli não os repreendeu. Toda omissão na vida espiritual do lar sempre trará consequências sérias. Davi teve problemas com vários de seus filhos, e se você estudar com calma a história dele perceberá o quanto ele era negligente em relação a seus filhos. Adonias, assim como Absalão, se exaltou, querendo usurpar o trono. Mas por trás desta atitude de rebelião, a Bíblia mostra a negligência de Davi como líder espiritual em sua casa: “Jamais seu pai o contrariou, dizendo: Por que procedes assim?” (1 Reis 1.6) Se não queremos sérios problemas futuros com nossos filhos, muito menos a qualidade do relacionamento deles com Deus comprometidos, então precisamos ser sacerdotes dedicados em ministrar e cobrir suas vidas, cuidar e zelar sobre a espiritualidade da nossa família.
Pastor Ivo Lídio Köhn