Autor: Pr. Ivo Lídio Köhn
Na noite em que Jesus foi traído, após a ceia pascal, Ele tomou “o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós”(Lc 22.19,20). Jesus estava para ir à cruz, e ao Pai, deixando os Seus amados discípulos neste mundo. Ele estava indo preparar-lhes um lugar, para depois retornar e recebê-los para Si, para que onde Ele estivesse eles pudessem também estar. Sabendo que seus corações facilmente se esqueceriam, e ciente da fria influência exercida pelo mundo, Ele lhes deixou, antes de partir, este simples e amável pedido: “Fazei isto em memória de mim“. É da máxima importância que cada cristão possa conhecer o desejo do Senhor acerca desta bendita instituição que é a Ceia do Senhor, uma vez que a cristandade em geral tem se distanciado cada vez mais da simplicidade das Escrituras, despojando a ceia e a mesa do Senhor do seu verdadeiro significado, e levando muitos a ficar confusos a respeito deste assunto. Os romanistas, com suas missas, e os protestantes, com seus sacramentos, têm ambos distorcidos o verdadeiro caráter do lugar que a ceia e a mesa do Senhor devem ocupar na igreja. E verdadeiros cristãos são crentes em Jesus, possuem a vida eterna e o Espírito Santo (Jo 6.47; 1 Co 6.19). A ceia nunca deveria ser tomada como um meio de se obter bênçãos, mas como uma grata lembrança de nosso Senhor, por aqueles que já receberam bênçãos. Uma verdadeira fé e um andar em fidelidade credenciam aqueles que são membros do corpo de Cristo a ter o seu lugar à mesa do Senhor. Trata-se de um privilégio de todos os filhos de Deus que não estejam biblicamente desqualificados para tal.
Por que devemos tomar a ceia do Senhor? Em memória de Jesus, para que nossos corações possam trazê-Lo à lembrança. O partir do pão nos fala do Seu corpo entregue por nós sobre o madeiro; o beber do cálice nos fala de Seu precioso sangue derramado por nós. Ao participarmos destes símbolos do Seu amor, anunciamos a morte do Senhor. Na presença de Deus, e dos anjos santos, e também circundados pelos poderes invisíveis das trevas e da maldade – Satanás e seus anjos – e por um mundo de pecadores culpados e perdidos, anunciamos o maravilhoso fato de que o Senhor da glória, Jesus, o Cristo de Deus, foi até a cruz do Calvário, sofreu, derramou Seu sangue, e morreu. Nós anunciamos o mais esplêndido acontecimento já ocorrido na história do universo: como o Seu Criador Onipotente, como Homem (sem pecado), sofreu toda aquela terrível vergonha e dor, a fim de que Deus fosse glorificado; a fim de que o poder de Satanás fosse anulado, e a questão do pecado resolvida de uma vez por todas. Mas Deus O ressuscitou dentre os mortos, e Lhe deu glória, mostrando assim a todos a Sua estima pela oferta única e perfeita. Já está assentado, o poderoso e vitorioso Senhor, à direita da majestade nos céus, aguardando o glorioso momento, que só Deus conhece, quando descerá nos ares para chamar os Seus amados para o Seu lar (1 Ts 4.15-18). Os cristãos estarão, então, cumprindo as Suas palavras, fazendo isso em memória dele, e dessa forma anunciando a Sua morte até que venha.
Encontramos também em Atos 20.7 que, “no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles”. O primeiro dia da semana, ou dia do Senhor, é o dia que se segue ao Sábado (Mt 28.1; Ap 1.10); é o dia no qual nosso Senhor ressuscitou dentre os mortos. E aprendemos deste versículo que era costume dos primeiros discípulos se reunirem neste dia para partir o pão em memória do Senhor. Este é o objetivo que os motivava a estar reunidos. Paulo estava ali, e falou a eles; mas eles não estavam reunidos para ouvir Paulo pregar, mas para recordar o Senhor Jesus em Sua morte. Alguns poderão pensar, ao lerem estas linhas, que não há nada que demonstre que os discípulos se reuniam todo primeiro dia da semana. Mas permita-me lembrá-lo, querido leitor, que anunciamos a morte do Senhor até que venha, e, assim, ao nos reunirmos no primeiro dia da semana, poderá ser a última vez que o estaremos fazendo. A volta de Cristo se encontra tão evidente nas Escrituras, que o Seu povo deve permanecer sempre em uma atitude de espera por Ele (Lc 12.35,36; 1 Ts 1.9,10). Então você nunca mais passará um dia do Senhor neste mundo, mas se, enquanto aqui, procurar em sua Bíblia, irá encontrar em Atos 20.7 que “no primeiro dia da semana ajuntando-se os discípulos para partir o pão…”
Em meio à toda confusão reinante, o nosso recurso continua sendo Deus e a Palavra da Sua graça; e a promessa permanece tão firme hoje como nos dias em que nosso Senhor a deu. Sua presença é no meio de dois ou três reunidos ao Seu nome. Em, ou ao, MEU nome – o nome do Santo de Deus – e em nenhum outro nome. O fato de cristãos estarem reunidos como membros de uma igreja estabelecida por homens, ou em um sistema ou sociedade religiosa, por mais bem intencionados que sejam, não é a mesma coisa que estarem reunidos ao nome de Cristo. Porém alguns podem argumentar: – “Mas temos a presença do Senhor conosco!” É claro que sim, mas como indivíduos. Isso é válido para todo cristão, e muitos têm uma percepção mais clara disso quando se reúnem em qualquer lugar onde a Palavra de Deus seja pregada e onde Ele seja louvado. Mas a presença de Cristo no meio é algo completamente distinto disso, e a menos que você esteja dentre aqueles reunidos ao Seu nome (cf. Mt 18.20), nunca terá desfrutado a realidade desta preciosa verdade. Para o amado povo de Deus não há nada que possa ser comparado a isto em todo este mundo. Está VOCÊ reunido ao nome de Cristo somente? Permita-me acrescentar que a principal atividade daqueles reunidos ao Seu nome deveria ser a lembrança de Cristo em Sua morte. Os dois ou três vinte ou trinta, duzentos ou trezentos, se for o caso, assim reunidos, se encontram sobre o fundamento daquilo que é a assembléia ou igreja de Deus. E em todas as ocasiões em que estiverem assim reunidos, Cristo estará ali. Isto é válido para todas as assembléias de cristãos assim reunidos nas diversas partes do mundo. Embora milhares de quilômetros possam separar as diferentes assembléias de irmãos reunidos desta maneira, cada uma delas tendo a responsabilidade de representar o todo, ainda assim todas fazem parte da única igreja de Deus sobre a terra. Todos os santos fazem parte da igreja de Deus; enquanto que todos os santos reunidos ao nome de Cristo estão sobre o fundamento da igreja de Deus. (1 Co 11.23-26./1 Co 10.15-17.)
Havendo citado estas passagens das Escrituras, permita-me que o auxilie um pouco a guiar o seu coração mais além, amado irmão em Cristo, para a simplicidade de tudo isto; para que nosso Senhor possa sentir gozo em observar a nossa amável sujeição à Sua bendita vontade, e para que você possa se regozijar por estar fazendo com que Ele Se alegre.
O cristão, ao desfrutar desse bendito privilégio, não deve se esquecer de julgar a si mesmo. Participar dos símbolos (pão e vinho), que trazem à memória o amor de Cristo, sem exercer um julgamento próprio, é comer e beber indignamente, falhando em discernir o corpo e sangue do Senhor (1 Co 11.27-29). Isto com certeza trará sobre nós juízo no tempo presente, assim como acontecia com os Coríntios, para não sermos condenados (ou julgados) com o mundo (1 Co 11.30-32). “Examine-se o homem a si mesmo e assim coma deste pão e beba deste cálice.” (1 Co 11.28.)
Pastor Ivo Lídio Köhn