Autor: Pr. Ivo Lídio Köhn
A grande força da instituição familiar nos é revelada pelas Sagradas Escrituras já no seu início: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda… e se tornarão uma só carne.” Após a criação do homem e da mulher, Deus disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos.” ( Gn 1.28) Não é difícil notar que Deus criou o homem para que ele vivesse em família, pois esta é a instituição primordial, querida por Deus, que permitirá ao homem a realização do seu ser imagem e semelhança de Deus, ou seja, a realização do seu ser amor e comunhão. A família é assim, a primeira escola, instituída pelo próprio Deus para ensinar-nos a comunhão de amor.
No entanto, sendo o nosso Deus amor em si mesmo, e sendo o amor sempre uma realidade criativa e aberta, não simplesmente criou o ser humano homem e mulher,mas lhes deu a faculdade de procriar, de multiplicar-se através do amor. O homem só não seria suficiente para manifestar o amor de Deus. Nem mesmo o homem e a mulher ordenados um para o outro numa doação recíproca seriam suficientes para manifestar a grandeza deste Deus. Mas somente o homem e a mulher, numa doação recíproca e aberta à geração de novas vidas são capazes de transmitir o mistério de comunhão de amor do nosso Deus, mistério do qual fomos criados imagem e semelhança. E Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só, vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda.” Deus também disse: “Façamos o ser humano a nossa imagem e semelhança.” E Deus criou o ser humano: “Homem e mulher”. E Deus ainda disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos.” Citamos dessa forma essas belíssimas frases do livro do Gênesis porque nelas podemos contemplar com clareza que a partir da união legítima entre um homem e uma mulher, o matrimônio está ordenado para o bem dos cônjuges –“não é bom que o homem esteja só” – e para a geração e educação dos filhos –“crescei e multiplicai-vos.” Esta última frase não está indicando somente a procriação, mas a procriação e a educação. Pois visto que o homem e a mulher são imagem e semelhança de Deus, a paternidade e a maternidade têm, por vocação, a missão de ser reflexo do amor de Deus. Amor este que não somente cria o ser humano, mas o cria e o ampara em todas as suas necessidades. Eis, então, o que é a família em si mesma: comunhão e amor! Eis a primeira missão da família no mundo: manifestar o mistério de um Deus que é comunhão e amor!
Podemos então afirmar que a família é o primeiro espaço que temos para dizer: Eu quero amar. Pois a família foi instituída para que, através dela, fôssemos amados e aprendêssemos a amar, a renunciar, a nos doar. É a família a primeira comunidade na qual a pessoa experimenta da bondade do amor gratuito que cura, liberta, eleva e redime. Ao mesmo tempo, é nesta mesma comunidade familiar que a pessoa comunica a gratuidade do amor ao seu semelhante. A família é a comunidade na qual desde a infância se aprendem os valores morais, a honra devida a Deus, a fazer bom uso da liberdade, enfim, a família é uma iniciação à vida na sociedade. Hoje em dia se fala muito em ter um filho só, ou no máximo dois, em vista de cuidá-los melhor. Isso não é verdade! O filho único tenderá com muita facilidade ao egoísmo, à centralização em si mesmo, a superficialidade nas relações, e, em consequência de tudo isso, a não realização do seu ser pessoal ordenado para o amor. A família pequena demais ao invés de promover o bem dos seus membros poderá ser o seu grande mal. Pois a vida sem relação, sem êxtase, sem confronto com o outro estará muito longe de ser uma vida plena, ou seja, uma vida no amor. E estará muito perto de ser uma vida degradada, mesquinha e centralizada. Daí, não é difícil concluir que uma sociedade formada por pessoas que não possuem autênticas experiências de relacionamentos, consequentemente, poderá se tornar uma sociedade egoísta, individualista, mesquinha e fechada ao diferente. Eis mais uma missão da família junto à sociedade: ser numerosa para ser verdadeira escola de amor e célula da civilização do amor!
A família, que como vimos acima, foi constituído por Deus para ser uma comunidade de amor, é, desde o princípio, reflexo do amor criador e educador do Pai. No entanto, é em Cristo Jesus que ela alcança a sua mais sublime vocação. Pois é em Cristo que podemos interpretar as relações intrafamiliares como: reflexo da eterna dinâmica de amor que há entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É em Cristo que podemos compreender a dimensão redentora do amor conjugal que cura e santifica numa doação única e permanente. É sempre em Cristo que compreendemos a doação constante entre pais e filhos a partir da relação entre o Pai e o Filho. E é por Cristo que contemplamos a discreta, mas poderosa ação do Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, amor entre Cristo-Esposo e a Igreja-Esposa que ilumina e move a doação que deve existir entre os membros de uma família.
Daqui compreendemos que a família é uma instituição de altíssima dignidade, mas que não é fim em si mesmo. Na luz de Cristo a família é uma Igreja doméstica, ou seja, é no seio da família que os pais são para os filhos, pelo exemplo e pela palavra, os primeiros mestres na fé. Pela vivência do amor ativo o lar se torna uma escola de vida cristã e de enriquecimento humano. Neste ponto, podemos salientar que os pais devem sempre considerar os filhos como filhos de Deus e respeitá-los como pessoas humanas. Assim, zelam pela primazia do Pai dos Céus na vida dos filhos, favorecem a liberdade na escolha profissional e no discernimento vocacional, e, os educam na Lei de Deus mostrando-se eles mesmos obedientes à vontade do Pai dos Céus.
Pastor Ivo Lidio Köhn