Autor: Pr. Ivo Lidio Köhn
Às vezes, sentimos que nossa vida terrena pode ser comparada, como diz o Salmo 84, à caminhada por um vale de lágrimas: tribulações, dificuldades e sofrimentos enchem nossos dias e os fazem parecer um fardo, tentando (e, com alguma freqüência, conseguindo) abalar nosso ânimo e roubar nosso contentamento. Isso acaba refletindo-se também sobre nossa família.
Diante disto, é quase automático que busquemos uma diversão para combater o desprazer, a angústia e o tédio: um programa de televisão, um vídeo na internet, um jogo no computador, uma conversa com os amigos, um momento de carinho com o(a) companheiro(a), e tantos outros meios que, em tais horas, parecem nos dar o desejado conforto para as dificuldades diárias, até fazendo com que as esqueçamos.
Conforme a própria origem da palavra informa, a diversão é um desvio (vale dizer, por exemplo, que, no inglês, o primeiro significado de diversion é exatamente este) e, neste sentido, ela funciona como uma fuga das situações difíceis, pois volta nossa atenção para algo capaz de nos ocupar agradavelmente.
Sem dúvida, o divertimento é algo necessário em nossa vida, pois seria quase insuportável nos dedicarmos com exclusividade a tarefas estressantes, mesmo que produtivas ou recompensadoras. Contudo, meu propósito nesta mensagem é mostrar que, não raramente, as pessoas são tentadas a passar dos limites do necessário e, desviando-se muito, acabam perdendo-se do caminho e, quanto mais se distanciam, mais têm dificuldade para retornar a ele e nele permanecer.
Para facilitar a compreensão, menciono alguns exemplos práticos:
Televisão: Este aparelho revolucionou o mundo das comunicações e é tão acessível que se faz presente, hoje, na grande maioria dos lares. A diversidade da programação em seus canais é uma de suas características mais úteis e mais interessantes a todos, mas pode vir a ser também um de seus maiores incômodos: apesar de muitas opções aí presentes serem realmente úteis e construtivas a nós, há, por outro lado (e provavelmente em quantidade superior) muitos programas prejudiciais à saúde intelectual e à retidão do caráter. Principalmente quando se considera o conteúdo da rede aberta, é assustador observar como a tela é tomada por humor de mau gosto, imagens e situações apelativas, exemplos de desvirtuamento dos valores, desrespeito à pessoa humana, incentivos ao consumismo e tantas outras fontes de mal. Pior ainda, as emissoras usam de todos os recursos para aprisionar a atenção do espectador, mantendo-o no desvio e fazendo-o perder seu tempo com coisas que, na verdade, seriam totalmente dispensáveis.
Computador e internet: Mais uma inovação tecnológica que supera os recursos da televisão, em todos os sentidos. Ao mesmo tempo em que são uma ferramenta de trabalho poderosa e meio de divulgação de informações, podem também constituir uma das maiores perdições de fácil acesso, pois a interação do ser humano é ainda maior, o que torna seu grau de atratividade bem mais alto: os jogos virtuais, por exemplo, ao passo que são um meio cientificamente comprovado de desenvolvimento das funções mentais, trazem o perigo de “escravizar” seus praticantes, motivando-os a envolver-se, sem limites para término e, portanto, tendo-os maravilhado com uma “realidade” paralela, dificultando o retorno à verdadeira realidade. Outro exemplo são as redes de relacionamento, que interligam pessoas de todo o mundo, mas também podem ser veículo de intrigas, fofocas indevidas na vida alheia, interferindo negativamente no domínio privado. Isso para não falar da disponibilidade ainda mais simplificada de vídeos e imagens que perpetuam e acentuam os males da televisão, e das facilidades que fornece às atitudes mal-intencionadas e crimes.
Música: É óbvio que a música, enquanto arte é expressão das capacidades mais refinadas do ser humano e pode proporcionar um prazer muito grande aos ouvintes. Mas também não se pode deixar de reconhecer que, na atualidade, há alternativas sonoras, disfarçadas de “música”, que não trazem nenhum bem à pessoa, senão o divertimento desprovido de sentido. Ainda pior, associado a ataques à dignidade, seja por meio de letras, seja por meio das danças e imagens que as acompanham, no caso de videoclipes, por exemplo.
Leitura: Talvez uma das fontes mais seguras de conhecimento e também um dos meios de apreciação das máximas capacidades da intelectualidade humana, mas é forçoso admitir que os bons materiais sempre são rodeados por outros mais discutíveis: a possibilidade de encontrar páginas recheadas de informações desnecessárias, mentirosas e desencaminhadoras é muito grande. Basta olhar as listas semanais de obras mais vendidas para se ter uma noção de como aí se encontram livros com temas absolutamente dispensáveis, um verdadeiro veneno, mas que mesmo assim chamam atenção suficiente para captar milhares de leitores.
Eventos sociais: Mais uma vez, eis aí um dos aspectos necessários à vida humana: a sociabilidade trouxe e segue trazendo experiências fundamentais à vida das pessoas. No entanto, a interação entre as pessoas pode dar oportunidade a comportamentos reprováveis, muitas vezes influenciados pelos espaços em que se dão. Como exemplo, é comum que as pessoas se encontrem ao redor da mesa e da bebida, cujo abuso é causa de moléstias e até fatalidades: basta verificar o alto número de acidentes que prejudicaram jovens que “só queriam se divertir” e acabaram colhendo as conseqüências indesejadas de sua escolha.
A diversão estava presente mesmo na vida de Jesus, narrada na Bíblia: Em várias situações ele realizou milagres em meio a situações de folga, desde sua primeira manifestação pública nas bodas de Caná até a própria última Ceia, em que nos deixou o testemunho vivo de seu infinito amor. E Ele reconheceu a utilidade que ela pode proporcionar, como quando recomenda algumas vezes para que seus apóstolos descansem antes de retomar a caminhada e as suas tarefas ou quando pede que se tranqüilizem diante das situações geradoras de anseios e preocupações.
Todos os exemplos que forneci acima foram explicados sem enfatizar os perigos que o cristão enfrenta em cada um deles. Também não é difícil encontrar as tantas fontes de pecado que ali se escondem e deixo isso à dedução dos próprios leitores, para não tomar ainda mais espaço do que o já extenso que utilizei até agora. No entanto, é este o foco das sugestões que deixo no parágrafo abaixo.
O modo de vida cristão traz soluções muito melhores para a diversão: É extremamente recompensador dedicar o tempo livre, o tempo de relax, ao único provedor da verdadeira consolação e da verdadeira calma, Deus. Apenas Ele é infalível; nenhum ser humano, por mais amigo ou amoroso, pode dar tranqüilidade e bonança de maneira tão abundante como Ele. Aquilo que Ele provê é permanente, não passageiro como os produtos do invento humano. Como o bom pastor, Ele nos conduz, suas ovelhas, pelos caminhos corretos, e sua misericórdia é tão grande que possui o carinho de ir ao encontro, uma a uma, das que teimam em se desviar, e reencaminhá-las.
Por isso, além de fazer proveito apenas dos elementos úteis e bons daqueles meios de diversão anteriormente mencionados, recomendo que, nas horas de repouso, se faça uso dos meios de aproximação com Deus: a oração sincera e concentrada na fé, a meditação tranqüila para apreciar as maravilhas que Ele nos proporciona a cada momento, o louvor em agradecimento às muitas graças derramadas, a prática da caridade e do serviço para as boas obras. Todas estas experiências nos fazem sentir ainda mais próximos d’Ele, do conforto e alívio que nos fornece.
Quando uma família procura uma diversão deve questionar-se sempre se o Senhor Jesus a acompanharia ao lugar onde deseja ir; se Ele faria o que pretende fazer; se Ele assistiria com ela o que pretende assistir ou se Ele leria o que está querendo ler. O salmista diz no Salmo 1.1: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios; não se detêm no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. “ Jesus disse na sua oração sacerdotal que os seus estão no mundo, mas não são do mundo. Os cristãos precisam fazer a diferença sendo sal da terra e luz do mundo. Como Jesus, devemos amar ao pecador, mas não as suas práticas pecaminosas.
Desejo de coração, que você, caro (a) leitor (a), seja orientado (a) pelo Espírito Santo na escolha das suas diversões e que as mesmas lhe tragam o prazer e relax que você precisa para recarregar suas baterias de energia física e emocional.
Pastor Ivo Lídio Köhn