Autor: Pr. Ivo Lidio Köhn
Quando uma catástrofe atinge uma região deixa atrás de si um rastro de destruição: árvores quebradas, postes caídos, casas destelhadas ou desmoronadas, plantações destruídas etc. Imediatamente depois da sua passagem começa o trabalho de restauração, de reconstrução. A demolição e destruição ocorrem em fração de segundos, mas a reconstrução em alguns casos leva anos. A Igreja, nesses casos, também tem se empenhado em ser solidária às vítimas de tais flagelos, principalmente quando estas se encontram na sua área de abrangência. Essas catástrofesatingem apenas áreas físicas e geográficas provocando danos materiais.
Existem catástrofes que assolam o mundo espiritual do ser humano e causam estragos muito maiores. A primeira, a mãe de todas elas, aconteceu no jardim do Éden, quando o homem, apesar da exortação e advertência do Criador, optou pelo caminho da desobediência. Com a catástrofe do pecado a vida do homem e da terra não foi mais a mesma. Trabalho e luta para ganhar o pão de cada dia, sofrimentos e dores para a propagação da espécie, inimizade entre os descendentes do homem e da serpente e outros animais começou a fazer parte do dia a dia da vida na face da terra. A morte, como fruto da inveja e do ciúme, também entrou na história quando Caim matou seu irmão Abel. Quanta dor, quanto sofrimento, quanta desgraça a catástrofe do pecado trouxe e traz às pessoas que o praticam. Imediatamente após o incidente do Éden Deus iniciou o processo de restauração e cura ao anunciar que o descendente da mulher pisaria a cabeça da serpente (Gn 3.15) Foi com os olhos fitos nessa promessa e com a confiança depositada nessa receita do Criador que os homens encontraram forças para reerguer-se e sarar interiormente. Os profetas posteriormente tiveram essa promessa como ponto de partida para anunciar e falar da vinda do Messias. A Igreja tem o compromisso de levar as boas novas do Evangelho da Salvação como balsamo e remédio para a restauração e cura às almas e vidas machucadas e sofredoras sob as conseqüências do pecado e da rebelião contra Deus. Essa é a sua finalidade primeira e maior.
Quantos sofrem com enfermidades e doenças físicas e além do recurso da medicina, necessitam de apoio moral e espiritual. Por isso a Igreja precisa visitar os enfermos, consolá-los, motivá-los e orar com eles. É nessas horas que geralmente a pessoa está mais sensível e propensa a aceitar o recado de Deus. Além disso, deve também auxiliar e intermediar tratamentos para os enfermos, pois se a ciência descobriu e vai descobrindo curas para as enfermidades é graças à sabedoria que vem do Alto, do Senhor da criação. Verdade é que pela oração da fé Deus pode e tem curado muitas enfermidades; entretanto, entendemos que essa não deve ser a tecla principal da atividade da Igreja, e sim, a cura e restauração espiritual, pois “Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mt 16.26).
Quantos sofrem com problemas matrimoniais. Pesquisadores da Agencia Reuters, de Chigago, EUA chegaram à conclusão de que um casamento ruim faz mal à saúde. O estresse provocado pelos desentendimentos parece diminuir a produção inicial de uma proteína do sangue fundamental na cura de feridas, disse um estudo da Universidade de Ohio (EUA) Os casais briguentos estudados em um ambiente de laboratório apresentam um processo de cura mais demorado do que os que não brigam. O prazo de cura foi medido pela rapidez com que desapareceram bolhas feitas deliberadamente no braço dos envolvidos com a ajuda de uma bomba de sucção. Os casais que deram sinais de um nível mais alto e constante de comportamento hostil apresentaram um processo de cura 60% mais lento, em média, do que os casais não hostis. O desentendimento entre os casais provoca um impacto negativo sobre a saúde, impacto esse que vai da pressão alta à depressão. A Igreja precisa trabalhar na cura e restauração dos matrimônios. Estamos a vários anos trabalhando com encontros de casais nas congregações; também realizamos aconselhamento pré-nupcial para os noivos. Temos percebido bons resultados. O lamentável é que a maioria dos casais não procura auxílio quando está com problemas e a relação se desgasta ao ponto do problema tornar-se crônico e de difícil solução. Aproveitamos os estudos bíblicos e programas de senhoras para orientar e apresentar informações sobre a vida matrimonial. Pela graça de Deus tivemos a oportunidade de auxiliar muitos casais em crise e ajudá-los. Aos problemas matrimoniais acrescentam-se os familiares. Pais e filhos que não se entendem mais. Quanta dor de cabeça e quanto sofrimento isso também tem causado em tantos lares. Essas famílias necessitam de orientação para serem restauradas e curadas, porque Deus não deseja um matrimonio infeliz, muito menos uma família destruída. A Igreja tem sua responsabilidade sobre isso. O problema maior nessa área é o conflito de gerações; a dificuldade de equilibrar isso, de o mais idoso entender o mais jovem e do mais jovem respeitar e entender o mais idoso.
Outro setor que produz muito sofrimento são as mágoas e ressentimentos provocados pela maledicência de línguas maldosas oriunda da inveja e do ciúme. Dói muito quando chega aos nossos ouvidos uma inverdade pronunciada a nosso respeito; quando no calor de uma discussão, onde se briga pela razão e não pela solução, um fere ao outro com palavras duras e agressivas. Muitas pessoas não sabem trabalhar esses sentimentos e acabam armazenando mágoas e ressentimentos, que vão corroendo os sentimentos bons e nobres. A Igreja precisa orientar a tais pessoas como podem curar-se e restaurar-se através do perdão, o único que liberta. Ela também precisa pregar e ensinar atitudes preventivas a isso enfatizando o que diz Paulo em Fp 4.8: “Finalmente, irmãos, tudo o que pé verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro tudo o que é amável tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” Quem praticar isso saberá controlar a sua língua, pois do que estiver cheio o coração a boca transbordará.
A Igreja também tem o compromisso de restaurar e curar as feridas e dores provocadas pela perda de ente queridos. Toda a separação é dolorosa. Há os casos em que a família estava preparada através de um longo período de enfermidade; nesse caso a cura e restauração são mais rápidas e fáceis. Mas, nos casos de acidentes ou ataques cardíacos a morte vem inesperadamente e a dor da perda é muito mais acentuada. Cabe a Igreja assistir os enlutados com consolo e conforto da palavra de Deus, se preciso for chorar com eles, mas transmitir-lhes a certeza de que Deus está com eles em qualquer circunstância, pois assegura-nos em Mateus 28.20: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
Quanto sofrimento e quanta dor provocam a separação e o divórcio nos dias de hoje! Principalmente nos filhos, os quais ficam sem a segurança e o aconchego de um lar, sendo jogados de um lado ao outro, ou seja, permanecendo durante a semana com um e no fim de semana com outro dos pais. Aí vêm os divorciados ou os separados para a Igreja? Deve ela rejeitá-los? De maneira alguma, pois o Mestre disse: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei.” (Mt 11.28) Eles necessitam de remédio para suas feridas. A Igreja deve esforçar-se em tentar restaurar e reunir novamente esses casais. Recordo das palavras de um casal, separado a muitos anos e já tendo passado ambos por vários outros relacionamentos depois da separação. Ele disse: “Pastor Ivo, é preferível viver mal, mas ficar com a primeira família.” E ela me disse: “Pastor Ivo, se arrependimento matasse, estaria morta.” Senti todo o drama que estavam passando, mas o retorno lhes parecia impossível. A Igreja deve alertar que o divórcio não é a solução e que os mesmos defeitos pelos quais o casal se separa, encontrará e outros piores no novo parceiro ou parceira que buscarão. É preciso lutar por um bom relacionamento; nada cai pronto do céu. O casamento não é uma organização descartável, mas uma instituição divina para a felicidade do ser humano, no qual um participa da felicidade do outro e não a cobra dele.
Outros causadores de muito sofrimento são os vícios do alcoolismo, do tabagismo, da prostituição, da droga etc. Quantas vidas, quantos casamentos e lares o álcool já destruiu. Ao olhar os escravos dessa droga lícita em nosso país, fico com profunda pena, mas ao mesmo tempo indignado. A Igreja precisa ensinar os malefícios do álcool às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos pais em suas atividades e logicamente, ela mesma não oferecer em suas promoções o consumo do mesmo. Aos que desejam livrar-se deve prestar apoio e auxílio, pois só os que reconhecem sua prisão e tem o desejo da libertação terão chances de serem libertos, se olharem com fé e confiança àquele que disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (Jo 8.36) O mesmo é válido para o tabagismo, para a prostituição, para a droga: Somente aquele que reconhece e admite que tenha um problema, que é dependente, e sente profundo desejo de se livrar desse jugo, tem chances de restauração e cura. Deus, como médico supremo, somente consegue ajudar as pessoas que admitem serem doentes e conseguem explicar e confiar os sintomas a Ele, acreditando na eficácia da sua receita. Sempre afirmo que para alguns são necessárias três coisas para se libertarem: O querer deles, o auxílio de medicação e principalmente a fé no poder de Deus.
Refletindo profundamente sobre nosso tema desse mês chegamos à conclusão que a Igreja é um grande Hospital, no qual os membros são doentes em processo de cura e restauração. Os pastores, os presbíteros e líderes são os médicos, enfermeiras e enfermeiros a trabalhar na restauração e cura e Jesus Cristo, como médico supremo é o diretor do Hospital e chefe de toda a equipe. A Igreja precisa trabalhar intensamente em medidas preventivas para que o seu trabalho de restauração e cura seja minimizado. Se você foi curado e restaurado revele e recomenda o processo da tua cura e restauração a outros que sofrem de problemas idênticos e semelhantes aos seus.